O PAI, DO PAI, DO PAI, DO PAI DO MEU PAI

Não há ninguém vivo que possa confirmar esta minha suspeita. Infelizmente a fotografia, entre as várias que o meu avô guardou dos nossos antepassados, não tem qualquer nota. Mas vários elementos permitem-me ter alguma segurança na sua identificação: na altura, só este ramo da família vivia em Braga; a photographia é de um estúdio bracarense que funcionava na Rua dos Chãos precisamente no período em que a família cá esteve e anterior ao falecimento em outubro de 1904; e, por exclusão de partes no espólio, esta é a fotografia que tem mais probabilidade de lhe corresponder. E se assim for, este senhor é Manuel José Gomes, pai do meu trisavô, portanto o Gomes mais velho de que há registo fotográfico.

Natural de Joane (1844), veio de Barcelos na década de 70 ou 80 do séc. XIX montar uma tinturaria na Rua Cruz de Pedra, em Braga, num edifício que eu ainda tive a sorte de visitar na sua versão pouco alterada no final dos anos 80 antes de ser betonado bem ao gosto das reconstruções a “emitir” que a Câmara tanto licencia no centro histórico e que progressivamente vão fazendo hard reset à história urbana e patrimonial bracarense.

Contava-me o meu avô, dito pelo avô dele, filho do fotografado, que esta teria sido a primeira tinturaria moderna da cidade de Braga. Umas décadas mais tarde, o negócio foi gerido sem grande talento por duas filhas que, a muito custo, foram convencidas por um sobrinho a trespassar a loja aos seus primos Rego, também de Joane. Cento e muitos anos depois a “tinturaria” ainda existe, assegurada pelos descendentes daquela família numa lavandaria na Avenida Central, coincidentemente metros ao lado da casa para onde veio viver do Alto Minho a minha bisavô Esmeralda, funcionária dos CTT e que estreou a estação dos Correios da Avenida, cujo interior foi integralmente arrasado para o imparável progresso bracarense criar o “Liberdade Street Fashion”.

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