A Caminho de uma Braga mais Romana?

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Já longe das primeiras edições que curiosamente desprezavam a verdadeira Bracara Augusta e nos traziam bruxas e feiticeiros medievais, este ano parte da Braga Romana deslocalizou-se – e bem! – para a zona romana da actual cidade. Todavia, há ainda um longo caminho a percorrer para que um evento com tanto potencial ganhe consistência histórica sem perder a vertente lúdica.

A antiga capital da Galécia Romana, que dorme por baixo de Braga, pura e simplesmente é desconhecida a nível nacional. Com a sua grandeza sempre ocultada pela tacanhez dos anteriores executivos, os próprios bracarenses têm uma ideia pouco nítida, conhecendo dela, se tanto, alguns achados arqueológicos dispersos e mal assinalados. No dia-a-dia bracarense, e ao contrário de tantas cidades que se orgulham do passado – Évora, por exemplo -, a força de Bracara Augusta não se sente, nem se imagina.

Muito graças à Universidade do Minho e à sua Unidade de Arqueologia, são já centenas os estudos sobre os mais variados aspectos de Bracara Augusta. É hoje possível localizar importantes edifícios e praças da antiga cidade. Estes estudos têm, porém, de sair do repositorium e ajudar a recriar uma Bracara mais fidedigna. E a primeira coisa que urge fazer é a demarcação física da cidade! Porque não reconstruir em cenário durante o evento as muralhas e portas romanas, deixando sinalética durante o resto do ano? É também importante que o evento não ignore o local onde muito provavelmente se situava o fórum romano, o coração da cidade romana de há 2000 anos (largo Paulo Orósio, em frente aos Bombeiros Voluntários). Mais uma vez, este ano nem uma placa assinalava a importância daquela praça, hoje tão desoladora. Faz falta também que haja mais informação, para diferentes públicos e em diversos suportes e que integre e relacione as palavras-chave que o cidadão comum vagamente conhece: fonte do ídolo, vias romanas, termas, carvalheiras, sepulturas, frigideiras, sete fontes, etc. E, claro, é importante que não haja receio de fechar as ruas da cividade ao trânsito. Só aproximando a Braga Romana da Bracara Augusta que já descobrimos é que teremos uma experiência enriquecedora para os bracarenses e para quem nos visita.

Por fim, e infelizmente, um evento desta dimensão demonstra que os milhões gastos em “regeneração” jamais serviram para pensar o centro como um todo – e é mais do que urgente fazê-lo! A maior parte das praças de Braga não está preparada para eventos desta dimensão, e fazer um cortejo, desfile ou procissão é participar numa dura prova com obstáculos (é constrangedor ver o desfile a chegar ao fim da avenida central e a não ter como voltar para trás). Dá a sensação que todo o espaço urbano foi projectado por decoradores e não por arquitectos… Para ser visto e não para ser usado, portanto.

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